PARASHAT NASSÔ
B”H
Parashat Nassó (Bamidbar 4:21-7:89)
A Parasha inicia com o relato dos deveres específicos dos Benei Guershon e Benei Marari de shevet (tribo) de Levi designados aos serviços no Mishcan. A Torah, nesta porção, relaciona diversas leis referentes aos trabalhos das demais famílias dos Leviim e cohanim e o afastamento da congregação de pessoas acometidas de lepra e impurezas diversas.
A Torah relata também sobre leis de restituição de bens, de casos de suspeitas de infidelidade matrimonial e normas para a pessoa que se consagra e faz voto de Nazir ao Eterno. Esta porção também ensina as palavras da brachá Bircat Cohanim, as bênçãos que os sacerdotes abençoam Am Yisrael.
A Parasha segue com o relato da Voz da Shechinah sobre o tampo do Aron HaBrit (Arca da Aliança), quando HaShem falava com Moshe Rabeinu no Mishcan e encerra com a lista de doações dos Nessiim Shevetot (príncipes das tribos) de valores e objetos para o Mishcan, bem como a oferenda de corbanot (sacrifícios) para a consagração do Mishbeach (altar).
O que a Parasha nos ensina hoje?
A nossa porção desta semana discorre também sobre casos que envolvem suspeita de adultério, pecado considerado de alta gravidade na Torah, visto sua severa punição. O Talmude nos diz: “A bondade de uma mulher de bem é sem fim, da mesma forma que a maldade de uma mulher má”. Esta averá (pecado) contamina a neshamá, pois existe uma ligação espiritual que compromete as partes, que também atinge com impureza a pessoa traída e de certa forma afeta toda a família.
Rav Shaul nos explica esta união espiritual: Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois, como está escrito: "Os dois (marido e mulher cf. Bereshit 2: 24) serão uma só carne" (1 Coríntios 6: 16).
Portanto esta lei, denominada “Sotá”, será aplicada quando não se pode afirmar mediante provas concretas a culpa, porém de forma sobrenatural a verdade será desvendada. Assim o cohen deverá seguir normas estabelecidas segundo ritos no Templo para que se confirme ou não a suspeita e principalmente para que não permaneça a dúvida, que poderá desestruturar o casamento, mesmo quando esta suspeita não passa de imaturidade e insegurança ou até mesmo uma patologia pscológica de um dos cônjuges.
A Torah nos ajuda a fazer o “Tikum”, ou seja, refinar nosso caráter e neshamá, bem como a superar desajustes, carências e necessidades internas. “Cantarei a lealdade e a justiça. A ti, Senhor, cantarei louvores! Seguirei o caminho da integridade; quando virás ao meu encontro? Em minha casa viverei de coração íntegro;” (Salmos 101 :1-2).
O Midrash afirma que estes ritos de suspeita de infidelidade que o casal deveria fazer junto ao Templo, nunca foram aplicados, pois o seu caráter extremamente severo coloca a família em exposição pública, servindo também de objeto de reflexão profunda que direciona para a desistência de seu emprego e retorno à realidade. “Honra tua mulher; agindo assim, enriquecerás. Um homem deve estar sempre atento à honra devida à sua mulher; e só então a brachá se manifestará em sua casa”; (Talmude Trat. Baba Metsia). Portanto, mesmo sem ser aplicada, esta lei era muito importante para aquele período de intensa força patriarcal na sociedade. Isto também nos ensina que devemos, tanto os homens como mulheres, empenharmos no sentido de apurar o zelo pelo recato e modéstia, por uma imagem humilde e correta segundo a Torah como está escrito: “Abstende-vos de toda a aparência do mal;” (1 Tessalonicenses 5: 22).
Nossos sábios comentam que estes casos de ciúmes que ocorrem, com frequência são em sua grande maioria devaneios e delírios. “Os casos de frivolidade dos homens e das mulheres , segundo Resh Lakish no Talmude, não são mais do que produto de desajuste mental, pois trocando um ponto da letra “Sin”, a palavra hebraica “Tistê”, que significa “sair do caminho” se transforma em “”Tishtê”, cuja raiz deriva de alienação mental. Assim a culpabilidade nestes casos é limitada, razão pela qual, a lei em questão ficou sempre sem aplicação” (Comentário de Bamidbar 5: 12 – Tora, A Lei de Moisés, Ed. Sefer, 2001).
Portanto, podemos identificar alguns objetivos desta lei que em sua essência visa a preservação da instituição matrimonial, alvo da atenção e cuidado de HaShem. Desta forma, a lei de Sotá irá fazer justiça nos casos de adultério sem provas, caso haja culpa, ou então irá inocentar a mulher suspeita de adultério, salvando assim a sua reputação e honra, sendo ela recompensada Divinamente segundo promessas prescritas. “A mulher sábia edifica a sua casa, mas com as próprias mãos a insensata derruba a sua” (Mishlei 14: 1).
Com isso vemos que quando se analisa mais de perto este processo, pode-se concluir que Sotá preserva a mulher dentro do relacionamento impedindo o divórcio, sob acusação sem base em provas concretas e impossibilitando novas suspeitas no futuro, como também pedidos de divórcio por qualquer outro motivo. Assim, a lei servia para retrair a insegurança, imaturidade ou até mesmo o desajuste mental de certos indivíduos, controlando seus impulsos e surtos de ciúmes patológicos, como também as más intenções. “Ama-me menos mas ama-me para sempre” (sabedoria popular idishe).
É importante destacar que HaShem, somente neste caso, atua de forma sobrenatural estabelecendo a verdade e mostrando assim a importância do matrimônio e o amor e cuidado que o Kadosh Baruch Hu tem com as mulheres, a parte mais frágil do relacionamento. O Zohar afirma que “As brachot do Eterno só persistem no lar onde há uma comunhão feliz entre o homem e a mulher”. A lei de Sotá, mesmo sem ser aplicada, e além de dar garantias à mulher no relacionamento, servia para motivar comportamentos de recato e humildade de ambas as partes, como também atuava como inibidor deste pecado em oculto, dando maior segurança aos relacionamentos através destes procedimentos que só poderiam ser possíveis no período do Beit Hamikdash.
"Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria. Contudo, se vocês abrigam no coração inveja amarga e ambição egoísta, não se gloriem disso, nem neguem a verdade. Esse tipo de "sabedoria" não vem do céu, mas é terrena, não é espiritual e é demoníaca. Pois onde há inveja e ambição egoísta, aí há confusão e toda espécie de males. Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores. "(Tiago 3: 13-18).
Rosh Yossef Chaim (Maurício) – B'rit Olam.