PARASHAT TERUMÁ
B”H
Parashat Terumá (Shemot 25:1-27:19)
HaShem diz a Moshe Rabeinu que ordene aos Benei Yisrael para que tomem/separem “Teruma” (oferta) para a construção do Mishcan (tabernáculo) e fabricação de todos os artefatos e utensílios sagrados.
“Esta é a oferenda que tomareis (tikechu) deles: ouro, prata e cobre; tecido de lã azul-celeste, púrpura, carmesim, linho e pelo de cabra; couros de carneiros tintos de vermelho, couros de Táchash () e madeiras de acácia; azeite para a iluminação, especiarias para azeite de unção e para o incenso das especiarias; pedras de ônix e pedras de engaste para o efod (colete) e para o peitoral. E me farão um Mikdash (Santuário) e morarei entre eles. Como tudo aquilo que Eu te mostro, à semelhança do Mishcan à semelhança de todos os seus objetos, assim fareis;” (Shemot 25:3-9).
A Parasha descreve como deveria ser construído o Mishcan, conforme o modelo que Moshe presenciou em visões no Har Sinai, enquanto passava os quarenta dias recebendo orientações e leis da Torah. O primeiro dentre os utensílios do Mishcan a ser estabelecido foi o Aron HaB’rit (Arca da Aliança) para ser posto no lugar Kadosh HaKadoshim (Santo dos Santos). Em seguida a Shulchan Lechen HaPanim (mesa dos pães da proposição), a Menorá Zahav (Candelabro de Ouro), as Yryot Shesh (Cortinas de Linho), coberturas e véus para divisórias, revestimento externo e teto com suas respectivas colunas e tábuas e barras de madeira. A Torah descreve como deve ser fabricado o Mizbach HaOlá (Altar do Sacrifício) e todos os seus utensílios, o Chatser (pátio), suas estruturas desmontáveis com suas respectivas dimensões e posição cardeal.
O que a Parasha nos ensina hoje?
A palavra Terumá que é traduzida como “oferta”, literalmente, transmite a ideia de algo que é erguido ou elevado para um status superior. A tradição judaica nos diz que todo objeto material, que cumpre seu propósito na criação, através da "bracha" (benção) feita através do homem, ele pode ser elevado ou consagrado. Assim, acontece com a comida ou o sacrifício que era oferecido no Templo, após a brachá ou ação de graças, ela assume um nível de consagração.
Desta forma, com os utensílios do Mishcan, após a sua devida unção, se tornarão santificados assumindo assim em sua materialidade, a consagração ao Eterno para fins específicos e não podem ser profanados. Yeshua confirma este conceito ensinando aos religiosos os níveis e a importância das coisas consagradas. “Ai de vós, condutores cegos! pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro, ou o templo, que santifica o ouro? E aquele que jurar pelo altar isso nada é; mas aquele que jurar pela oferta que está sobre o altar, esse é devedor. Insensatos e cegos! Pois qual é maior: a oferta, ou o altar, que santifica a oferta? Portanto, o que jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele está; E, o que jurar pelo templo, jura por ele e por Aquele que nele habita; E, o que jurar pelo céu, jura pelo trono de D’us e por Aquele que está assentado nele." (Mattityahu 23:16-22).
A Palavra Terumá está relacionada à oferta ao Eterno no Mishcan ou Beit HaMikdash, seja para doações para construção (Shemot 25:2, 35:21), seja o valor arrecadado de meio shekel por razão do recenseamento (Shemot 30:13,14), seja, ainda, animal ou parte dele oferecida no mishbeach (cf. Vaycrá 10:14, Bamidbar 6:20). Estes objetos de ouro, prata, véus e madeiras, serão, desta forma, consagrados ao Eterno fazendo parte da materialidade do Mishcan que representa uma forma de revelação Divina no âmbito material da criação, aludindo à presença Divina em nosso meio como a Parasha nos diz: “E me farão um Santuário (Mikdash) e morarei entre eles” (25:8). Após o advento do Mashiach e o estabelecimento da Aliança em sua forma plena e perfeita, o Ruach HaKodesh habita em todo o homem e mulher que está inserido nesta Aliança, não pelo próprio mérito, mas pela graça Divina sendo, então, separado para D’us uma habitação terrena para servi-Lo, para isso ser instrumento ao Eterno afim de se revelar à criação. Assim como, quando ofertamos nossa vida ao Eterno por meio de Yeshua HaMashiach, todo nosso ser é consagrado e isso inclui todos os aspectos de nossa vida, consequentemente, tudo que venhamos a pensar, falar e fazer devem ser para kavod HaShem (glória de D’us) (cf. Cl 3:17).
Deste modo, consagramos além de nossas vidas, filhos, família, lar, tempo, entre outros, pois pertencemos ao Eterno: “Porque somos feitura Sua, criados em Yeshua HaMashiach para as boas obras, as quais D’us preparou para que andássemos nelas. (Efésios 2:10). Por esta razão o Beit HaMikdash foi criado para exercer a sua função, portanto se somos casa de D’us e não fazemos naturalmente o que dela se espera, então estamos profanando sua santidade. Rav Shaul nos orienta quanto ao cuidado e importância deste Templo: “Não sabeis vós que sois o Templo de D’us e que o Espírito de D’us habita em vós”? Se alguém destruir o Templo de D’us, D’us o destruirá, porque o Templo de D’us, que sois vós, é santo;” (1 Coríntios 3:16-17).
Também nossas ofertas na Kehila ou tsedaka aos necessitados deve ser algo natural de santidade, da natureza do templo, dirigido pelo Ruach Elohim (Espírito Divino) como está escrito, “e digo isto: Que o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância, em abundância ceifará. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a boa obra;" (2 Coríntios 9:6-7). O texto nos diz que esta Terumá em especial, deveria ser algo voluntário, onde as pessoas poderiam doar segundo a sua vontade, dentro das possibilidades que elas dispunham, “separem para Mim uma Terumá, de todo homem cujo coração o impelir para isso;” (Shemot 25:2). No entanto a Torah coloca a condição de ser o doador impelido pelo seu próprio coração e não ser obrigado ou constrangido a fazer esta doação, pois a oferta sem a devida intenção é anulada.
O relato desta mesma ocasião se repete e nos dá maiores detalhes sobre este aspecto “[...] tomai de vos Terumá separada ao Eterno, todo doador de coração trará a oferenda ao Eterno [...]; (Shemot 35:4b,5) " e “[...] veio todo homem cujo coração o incitou e todo aquele cujo espírito o impeliu a isso e trouxeram a Terumá separada do Eterno, para a obra [...];” (Shemot 35:21). O termo Nediv Lev (doadores de coração) diz respeito a algo que parte do interior do homem. O segundo texto acrescenta mais um aspecto a ser observado “cujo coração o incitou e cujo espirito o impeliu”, o que vem a acrescentar o entendimento do mecanismo e motivação do ato de ofertar. Podemos interpretar esta questão da seguinte forma: O coração diz respeito ao aspecto material do homem, isto é, o desejo de fazer algo com as próprias mãos. Já o espírito implica na parte elevada do homem, aquela que está mais ligada com as coisas espirituais e na luta contra os desejos da carne. Desta forma, existe a integridade do ser na adoração, o homem em sua totalidade almejando servir ao Criador de maneira completa e verdadeira, assim consagra ao Eterno a vida e sua oferta.
É possível entender que a motivação parte do entendimento e o coração está relacionado ao sentimento do homem como um todo., assim como a vontade humana e o desejo espiritual de ofertar e servir ao Eterno. Portanto, o Ruach HaElohim (Espírito Divino) tendo lugar no interior do ser humano unifica-se a vontade Divina no homem. Em outras palavras, consagração implica ser um com D’us através de Yeshua (Yohanan 17:21). Contudo, esta Terumá tem caráter voluntário apesar de outras, diferente das que se referem às ofertas e dízimos, as quais são especificadas como mitsvot de caráter obrigatório (cf. Shemot 30:15; Vaycrá 7:37,38; 23:14). "Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes;” (Malachi/Malaquias 3:8-10). Vemos, assim, a consagração sendo direcionado pelo Ruach e alcançar o propósito de ser como algo de sua própria natureza.
O Mishcan é a primeira casa, construída para ser móvel e transitória, ela evolui para o Beit HaMikdash, em um local fixo na cidade santa de Yerushalaim. Deste modo, estas casas terrenas são alusões do templo perfeito em uma Aliança perfeita. Portanto, após a Aliança plena em Yeshua, as nações também tem acesso a essa Aliança, em sua forma perfeita e plena pelo Mashiach. O corpo humano torna-se o Templo, casa não feita por mãos humanas e que é dirigida e habitada pelo Ruach Elohim.
Podemos ver na tradição judaica que existem três meshalim (parábolas) no Midrash aludindo a estes três momentos do estabelecimento do Mikdash (Santuário) na criação:
1- “Os Benei Yisrael são minhas ovelhas e Eu Sou o Seu Pastor”. Assim como o pastor monta a sua tenda entre seu rebanho, o Mishcan está entre Am Yisrael, onde quer que o Eterno os leve, seja pelo deserto ou pelas nações. Antes da outorga da Torah, HaShem se revelava aos patriarcas eventualmente e eles levantavam um altar em todo o local em que recebiam esta revelação. Depois de Matan Torah e a construção do Mishcan, somente neste local, é encontrado o Tabernáculo e é permitido o sacrifício, tendo assim, a graça de HaShem.
2- “Am Yisrael são o meu vinhedo e Eu Sou o Seu Guarda em Minha torre de vigia”. Esta imagem alude o Beit HaMikdash, local fixo em terra santa que gera os frutos da videira. HaShem da mesma forma permanece na terra de Sua eleição guardando Seu povo.
3- “Yisrael é Meu primogênito e Eu Sou o seu Pai”. A relação entre pai e filho corresponde a forma mais íntima de relacionamento tendo em vista que o filho nasce de seus pais. Este formato, representa o mais elevado dentre os relacionados, pois o Eterno não apenas acompanha, nem somente está consagrado em Seu lugar Santo, mas permite que seus filhos participem de Sua natureza, a fim de serem gerados Nele. Esta é a forma que Yeshua se relacionava com D’us e, assim, ensinou-nos a relacionarmos com o Eterno da mesma forma.
Enfim o corpo humano foi criado para ser o Templo do Ruach HaKodesh, que somente é possível através do estabelecimento da Aliança plena em Yeshua HaMashiach. Por isso, conseguimos identificar o aspecto de consagração destas casas terrenas e material devemos, também, entender que o nosso corpo é consagrado ao Eterno e assume níveis de santidade que devemos observar e valorizar nos submetendo a inteira vontade Divina expressa nas Escrituras.
Rosh Yossef Chaim (Maurício) – B'rit Olam.