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PARASHAT TSAV

B”H 

Parashat Tsav (Vayicrá 6:1-8:36

A Parashat Tashavua Tsav quer dizer “ordena” referindo-se aos cohanim e relata sobre diversas leis dos corbanot e ofício, como a lei das oferendas queimadas e do fogo perpétuo do mizbeach. Há leis que se referem à porção das ofertas aos cohanim, à preparação ritual dos cohanim, à troca de vestes e purificação do corpo antes de efetuarem no ofício.

 

A porção Tsav descreve também detalhes da Mincha, leis de ofertas de oblações, e mais detalhes sobre o ato sacerdotal sobre as oferendas de Olot e Shelamim; ofertas de elevação e ações de graça bem como Chatat e Asham; os sacrifícios expiatórios que relata a Parasha anterior. Segue ainda descrevendo detalhes sobre leis adicionais de proibições de ingestão de gorduras e sangue e relaciona as partes pertencentes aos cohanim das ofertas de paz e de elevação.

 

A Parasha finaliza com o relato da unção e consagração de Aharon, o Cohen Gadol, e de seus filhos ao sacerdócio e todos os sacrifícios e rituais a eles relacionados como leis de consagração e santificação aos cohanim, pelas gerações. Vemos no passuc 6:5: “Veaesh al haMizbeach tucad bo, lo tichbeh”, e o fogo do Mizbeach se conservará aceso, não se apagará”. A Torah dá ênfase no aspecto do fogo do altar por duas vezes neste passuc, que deverá ser contínuo sem se apagar, dia e noite. No passuc 6:6 também ela repete novamente que haverá um fogo contínuo no altar, não podendo ele se extinguir. Qual o significado mais profundo deste fogo contínuo no Mizbeach que a Torah tanto enfatiza e quais são suas implicações que refletem na avodá dos cohanim, uma vez que, normalmente, os corbanot eram oferecidos durante o dia?

O que a Parasha nos ensina hoje? 

Esta ordenança se relaciona com o aspecto de manter a chama original, que desceu dos céus sobre o altar na inauguração do Mishcan. Ela também se conecta, neste aspecto, com a chama contínua contida no braço ocidental da Menorá, o shamash que a partir dela se ascende as demais chamas dos sete braços da Menorá, a qual ficava no lugar Kodesh do Mishcan. Esta chama deve ser contínua, porque foi dada originalmente por HaShem e assim existe a obrigação como mitsvá, de manter o fogo de D’us aceso no altar do sacrifício que lhe é oferecido. Assim, o fogo não é criado pelo homem para oferecer sacrifícios a D’us, mas deve ser mantido pelo homem para que possa ser efetuado o sacrifício a HaShem. Vemos que o próprio HaShem é quem nos dá a possibilidade de efetuar a entrega do que a Ele pertence.

 

Assim, queimamos no fogo sagrado que nós mantemos, ou seja, vemos o Eterno disponibilizar algo que o homem deve manter e isso continua sendo sagrado e apto para ser aceito como oferta ao Eterno. Estas imagens são amplamente comentadas na tradição judaica e nos mostra revelações profundas no que tange ao nosso ato de dedicação e entrega ao Eterno. A princípio observamos que HaShem é quem toma a iniciativa enviando o fogo ao mizbeach. O fogo pode ser entendido como a Palavra ou a vontade de D’us que não pode ser extinta, mas mantida de forma intensa dia e noite por cada filho de Seu povo, um sacerdote de uma nação sacerdotal dentre os povos.

 

O altar também representa o coração do homem, que deve manter a chama do amor ao Eterno para que possa observar Sua vontade de forma ideal. A chama da Torah deve permanecer acesa e ininterrupta iluminando o caminho a ser percorrido para cumprir os propósitos de HaShem na terra. O coração é o lugar ideal onde oferecemos nossos sacrifícios contínuos e necessita do amor sucessivo de D’us, personificado com Seu Espírito (Ruach), que é mantido em nosso íntimo, como está escrito: “Não extingais o Ruach” (1 Tessalonicense 5:19), para que nossa adoração seja recebida pura pelo Kadosh Baruch Hu. Contudo, existem outras implicações que se relacionam com a avodá. O texto diz: “E a carne do sacrifício de sua oferta de pazes, por ação de graças, no mesmo dia será comida, não deixara dela até pela manha. E se seu sacrifício for por um voto ou uma oferta voluntária, no dia que ofereceu seu sacrifício será comido e no dia seguinte se comerão o que dele ficar. E o que ficar da carne do sacrifício no terceiro dia no fogo será queimado.” (Shemot 7:15,17).


Os sacrifícios naturalmente eram oferecidos durante o dia, na parte da manhã e outro no final da tarde. Contudo, o Talmud nos relata que havia uma exceção que ocorria caso não tivesse sido possível terminar a avodá do corban poderia então ser efetuado ao longo da noite. Isto porque cada corban tinha seu tempo específico, de acordo com o tipo de oferta, o restante do que sobrou do sacrifício tinha que ser queimado antes do raiar do próximo dia ou tratando-se de outro tipo de oferta. Ela poderia ainda ser consumida no segundo dia, mas não ultrapassava ao terceiro dia, tinha que ser queimada antes da aurora. Esta proibição de não ultrapassar seu tempo determinado chama-se “notar” e sua função era para que não tenha sobra e desperdício da oferta santificada a HaShem, onde as Escrituras estabelecem para cada sacrifício o seu prazo próprio para cumprir todos os requisitos legais para que a oferta seja válida e aceita. Vemos aqui a figura messiânica, onde os corbanot ou as ofertas devem ser desejados e consumidos inteiramente e não poderão ser desperdiçados ou rejeitados. A gordura e as partes internas do corban eram queimadas no mizbeach antes mesmo do corpo do animal.

 

Quando se cumpre uma mitsvá deve-se estar atento para que a motivação deste cumprimento seja correta, ou seja, de acordo com o objetivo com que ela foi criada, dentro daquilo que HaShem quer de nós, obedecendo um padrão de kedusha. A gordura do corban simboliza os prazeres que juntamente com as partes internas do sacrifício, que também simbolizam o íntimo do ser humano, deveriam preceder o ato sacrificial de louvores e ação de graças, pois a intenção positiva, a cavaná, a espiritualidade representa a fonte de onde iniciam-se as ações. Portanto, quando se observa a Torah com outros interesses que não seja a submissão e a dependência total de HaShem, a oferta torna-se inválida e isso também se aplica em tudo que oferecemos e dedicamos a HaShem nos dias de hoje.

 

A Torah nos ensina que até mesmo um pensamento que desvirtua o proposito da mitsvá, torna ela inválida: “E se na hora de sacrificar pensou em comer da carne do sacrifício de pazes no terceiro dia, este não será aceito nem será levado em conta àquele que oferecer, impuro será, e quem comer dele, levará sua iniquidade” (Vaicrá 7:18). Desta forma, todo o ser do homem intimo e exterior devem estar unificados na intenção sincera diante de HaShem, pois mesmo quando aos homens não há evidências de suas intenções, elas são conhecidas e julgadas por HaShem. “Guarda-te, que não haja palavra perversa no teu coração, dizendo: Vai-se aproximando o sétimo ano, o ano da remissão; e que o teu olho seja maligno para com teu irmão pobre, e não lhe dês nada; e que ele clame contra ti ao Senhor, e que haja em ti pecado;” (Devarim 15:9).

 

Yeshua HaMashiach quando interpretou a Torah expôs este conceito da Torah que muitos acreditam ser inédito por Yeshua, assim ele nos mostra da mesma forma que a intenção e a motivação que parte primeiro do interior do homem é a fonte de suas ações, sejam para a obediência a HaShem, seja para o próprio pecado como está escrito: “Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”. (Mateus 5:28). Contudo, o prazer é fundamental para estar na presença de HaShem. No entanto, este prazer pode confundir a pessoa tirando do foco da verdadeira motivação da observância da mitsvá. Esta pessoa pode estar cumprindo Torah e Mitsvá pelo prazer que isso proporciona, contudo este ainda não representa a motivação genuína e pura, pois HaShem não estabeleceu as leis somente para que o homem sinta prazer em cumpri-las, nem para se beneficiar com outros interesses, isto desfoca o alvo de HaShem e coloca a si próprio como receptor de benefícios.

 

O prazer e a alegria de servir a HaShem é a consequência de cumprir a vontade do Eterno pela motivação verdadeira, o amor, submissão entrega e confiança total ao Kadosh Baruch Hu. Assim, o coração do ser humano deve ser sondado pelo ser humano, pois ele pode ser enganoso. Além do mais é dele que brota a vida de HaShem a qual lá foi implantada. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem às fontes da vida;” (Mishlei/Provérbios 4:23).


Desta forma, as partes internas que aludem às intenções eram queimadas durante o dia que representa a luz e a revelação. Pela noite, também eram permitidos mesmo que não se tratasse de período natural, o corban era oferecido e aceito nestas condições. Estas ofertas estão envolvidas em um ambiente menos elevado aludindo à dificuldade que se encontra quando necessita de teshuvá. Portanto, a teshuvá e o amor ao Eterno estão no centro dos propósitos divinos do ato sacrificial e espera para que os homens retornem à luz e possam regressar em direção a um nível espiritual cada vez mais elevado e iluminado, como está escrito em Mishlei de Shelomo Hamelech, “mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito;” (4:18).

Rosh Yossef Chaim (Maurício) – B'rit Olam. 

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